segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Classe Média: caminhando para a extinção

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por Christina Fontenelle

em 20 de janeiro de 2006

Resumo: Ou a classe média sai do ostracismo ou desaparecerá do mapa social brasileiro.

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A classe média brasileira tem que parar de ter vergonha de assumir seus valores, seus objetivos e proclamar, orgulhosa, aos quatro ventos, seu direito de existir, passando a valorizar e a exercer os poderes que de fato tem. No limite entre ascensão e queda, se não se mobilizar – agora – caminhará inexoravelmente para a extinção.

Na infinidade de cálculos e tabelas que tentam desenhar o quadro social do Brasil, parece haver a recusa em descrever o óbvio (mesmo que, semanticamente, isso pareça redundância): a classe média, como costumava ser identificada, em três categorias (alta, média e baixa) está desaparecendo. A polarização está cada vez mais evidente e ficaria bem mais de acordo com a realidade se as estatísticas revelassem apenas duas classes – os ricos e os pobres – com suas respectivas subdivisões. Teríamos, então, numa ponta, três categorias: milionários, ricos e emergentes; e, na outra ponta, quatro categorias: sobrevivente, pobre-emergente, pobre-decadente e miserável. Sendo que o abismo que separa os emergentes, da primeira classe, dos sobreviventes, da segunda, é gigantesco.

Não se trata apenas de um fenômeno financeiro. A ascendência do pensamento e dos valores socialistas sobre a mídia, as religiões e as instituições de ensino - do maternal ao doutorado – fez com que a classe média perdesse sua identidade, na medida em que suas aspirações sócio-econômicas passaram a entrar em confronto direto com o pensamento filosófico dominante, disseminado pela ditadura do politicamente correto – que amordaça e algema aqueles que pretendem partir da realidade, dos fatos e da natureza humana, para buscar caminhos mais justos e eficazes na solução dos conflitos da vida em sociedade.

Instalou-se a cultura do apadrinhamento parasitário dos pobres, como se fossem seres inferiores e incapazes, por natureza, e a da desaprovação da riqueza, como se ela fosse, em si, representativa do gosto pela injustiça social. A idealização da pobreza como símbolo de desprendimento e como provedora de nobreza espiritual está tão longe da realidade quanto desmerecer os méritos e esforços pessoais que possam conduzir a um conseqüente enriquecimento – exigindo, de indivíduos assim, a redistribuição "justa" de sua riqueza e não, dos governos, as mesmas oportunidades e recursos.

A mesma lógica de distorção da realidade fez com que o Estado brasileiro se transformasse num instrumento ora de justiçamento social, através, principalmente, da atuação da Justiça do Trabalho, ora de extorção, praticando a cobrança de taxas e impostos nitidamente abusivos – tanto pela quantidade como pelo valor – sob o pretexto da redistribuição das riquezas. Quando, na realidade, deveria estar muito mais voltado para garantir o máximo de igualdade possível, em termos de oportunidades.

Senão, que tipo de justiça é essa que acha que ao Estado cabe dispor da riqueza alheia – fruto do trabalho e da disposição ao risco e que, ainda por cima, emprega e contribui para melhorar as condições de vida de muitas pessoas – para distribuí-las aos pobres, sem que a estes sejam dadas as condições para sair da posição de eternos pedintes? Só há uma explicação plausível para a perpetuação deste tipo de atuação estatal: há muita gente ganhando com essa intermediação do Estado entre capital, trabalho e mão-de-obra excedente. Não se pode dar ao juiz a faculdade de criar as leis. Mas, isso já é outro assunto.

A discriminação da riqueza deixou livre a sua busca para os que, em sua maioria, são desprovidos de ética, de honestidade e de retidão de princípios. Sem o peso da culpa e de formação duvidosa, os novos ricos associaram a malandragem ao poder financeiro. Ao mesmo tempo, o desamparo por parte do Estado – por ausência, omissão ou por, muitas das vezes, até atrapalhar – explica, embora não justifique, o fato de que muitos dos que enriqueçam, neste país, soneguem impostos ou pratiquem uma série de delitos fiscais, não somente para que o negócio sobreviva mas também por julgarem o sistema injusto.

A pobreza só é meritória e engrandecedora – posto que libertadora – quando é opcional. Desde o religioso que se despe de bens materiais para levar a palavra de Deus aos quatro cantos do mundo até o sujeito que simplesmente quer levar a vida na "flauta". São opções pessoais. Fora desse contexto, a pobreza não tem nada de belo ou enobrecedor – ao contrário: é triste, sofrida e castradora. Embora não seja, isoladamente, causadora de desvios de conduta, quando acompanhada de falta de instrução e de oportunidades, em um ambiente onde impere a "Lei do Cão", é sim deformadora de conceitos pré-estabelecidos socialmente, como certo e errado ou justo e injusto.

Nesse balaio de desencontros, a riqueza nunca foi tão parecida com a pobreza em termos de visão de mundo e de incorporação, ao seu cotidiano, da prática corrente de delitos considerados permitidos, cada um em seu universo. A imagem do rico esforçado e trabalhador e a do pobre ingênuo, indefeso e honesto estão cada vez mais distantes – não é à toa que a evidência de qualquer um dos dois vira notícia. E a classe média? O que resta dela está flutuando no abismo cada vez maior entre os emergentes e os sobreviventes.

Assistindo, paralisada de horror, à sua transformação de profissional liberal ou servidor público, intelectualizado, em força-de-trabalho especializada, desprovida de recursos que lhe possibilitem acesso aos meios de aprimorar seu grau de instrução, trabalhando apenas para ter casa e comida, a classe média ainda não conseguiu sair do estado de letargia, embora comece a dar os primeiros sinais de conscientização em relação ao seu status de refém do pensamento socialista de esquerda e de vítima da ditadura do politicamente correto.

Sufocada pelo achincalhamento permanente de seus valores, sobrecarregada de impostos e abandonada pelo Estado, graças aos computadores domésticos e à Internet, a classe média vem formando guetos de resistência e começa a perceber que, apesar de ter respeitado a riqueza e de ter se solidarizado com a pobreza, não obteve o mesmo, em contrapartida, agora que se vê necessitada. Está só. Sua única chance de sobreviver está nas condições que ainda dispõe de buscar a verdade dos fatos e de encontrar uma maneira de se despir dos pudores que sente em se assumir como classe especificamente caracterizada, sem status de intermediária.

Um bom começo seria apropriar-se das técnicas de trabalho de defesa das minorias – coisa que o que resta da classe média já se tornou há muito tempo – e partir para colocar no Congresso, através do voto, candidatos que se declarem abertamente como defensores de seus interesses – coisa, aliás, bastante difícil, uma vez que envolvem, quase sempre, questões "politicamente incorretas", como a valorização da família e dos princípios cristãos, o desmascaramento daqueles que insistem em fazer do Brasil um país de racistas e também daqueles que querem impor ao povo o delírio comunista – gentilmente apelidado de socialismo – e ainda outras, mais complexas, como combate ao assistencialismo, redimensionamento salarial, valorização da instrução como meio de ascensão sócio-econômica, etc.

Uma coisa é certa: não existem mais anjinhos inocentes no paraíso social. É cada um por si e a quem couber mais perspicácia e inteligência será dada a chance de concorrer à vitória. Ou a classe média sai do ostracismo ou desaparecerá do mapa social brasileiro.

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