em 06 de janeiro de 2006
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Existe uma outra explicação para os números records dos sucessivos superávits da Balança Comercial brasileira. Explicação esta que precisaria ser dada ao povo, sob pena de enganá-lo com divulgações, também sucessivas, de meias verdades. No Brasil, a opção de exportar não surge da necessidade de escoar os excedentes da produção - o que era praticado pelos empresários, da indústria ou da agricultura, há alguns anos. Hoje, em nosso país, bem como em muitos outros, prisioneiros de um ciclo de subdesenvolvimento, há uma inversão dos mandamentos econômicos adotados pelos países desenvolvidos: o que fica para ser consumido no mercado interno é o excedente daquilo que foi produzido visando prioritariamente o mercado externo.
Como a atual situação econômica da maioria dos brasileiros não permite que direcionem boa parte de seus orçamentos para o consumo de bens, eles acabam atuando, significativamente, no processo de produção, apenas como mão-de-obra. A saída do empresariado brasileiro para sobreviver, e até mesmo crescer, foi produzir para exportar, livrando-se da dependência do mercado consumidor interno, estagnado e empobrecido. E é por isso que, contrariando a lógica, mesmo com o real bem posicionado em relação ao dólar, as exportações continuam em franca expansão.
Portanto, aqui no Brasil, quando se ouve que o país tem exportado como nunca, entenda-se: a população está com seu poder de consumo extremamente comprometido e a mão-de-obra cada vez mais financeiramente desvalorizada. Os louros do superávit significam poucos empregos e enriquecimento da máquina estatal. Tudo em nome do firme propósito de praticar o "engana-trouxa" para cima dos "impérios do capital" e de condenar nosso continente ao retardamento utópico delirante do socialismo populista.
No outro prato da balança, as importações crescem bem mais modestamente. Isso seria ótimo se apenas significasse a auto-suficiência em setores que outrora dependessem de importações. Mas, não é só isso. Esse processo vem sendo acompanhado de um trágico redirecionamento, em relação aos bens de consumo: nas áreas que independem de insumos, equipamentos e tecnologias importadas - que são muitas vezes inevitáveis ou insubstituíveis - o país sofre uma invasão de produtos originários de países que estão longe de ter "economia de mercado", como a China, por exemplo, o que torna inviável qualquer tentativa de concorrência legal por parte do empresariado nacional.
Isso acaba por provocar a falência de indústrias e de estabelecimentos comerciais francamente nacionais, já estabelecidos e afamados, não só aqui, como no mundo - a indústria têxtil e a de calçados são alguns dos exemplos. Esse processo vem jogando, descaradamente, a população e o empresariado brasileiros na informalidade - e até na ilegalidade - comercial. Já é o caso de 60% da população economicamente ativa do país.
Uma outra revelação que se depreende do quadro de importações é a de que elas não crescem, em se tratando de produtos e serviços com preço de mercado convencional, porque não há mercado consumidor para que isso aconteça. Seria de se esperar, numa inferência lógica, que elas estivessem em franco crescimento, uma vez que o real se mantém estável e bem valorizado, em relação ao dólar. Fato este que permitiria ao consumidor brasileiro usufruir de bens de consumo mais modernos, mais bonitos e até mesmo de alguns requintados supérfluos.
As importações se restringem ao indispensável e ao abastecimento do mercado de tecnologias, já quase que irreversivelmente absorvidas para o bom funcionamento das exigências da vida urbana - equipamentos eletrônicos e da indústria da informática. A população só entra em contato com os resultados disso através da modernização de serviços. Em casa, os velhos móveis, os velhos aparelhos e algum sinal da "modernidade", com aparelhos de DVD e de telefone celular. Isso nas grandes cidades, porque o resto do país continua no século 20, lá pelos idos dos anos 80.
Esta é a verdade que está por trás dos sucessivos superávits da balança comercial brasileira: povo e acesso aos benefícios do desenvolvimento caminhando em sentidos opostos. Cada vez que o atual governo celebra o desempenho comercial do país, nos discursos e nas manchetes dos jornais, brinda a caminhada do povo em direção ao destino, que pretende lhe impor, da escravidão populista - por julgar-se juiz supremo daquilo que seja o desejo do povo, mesmo que sabidamente não seja, sob a alegação estúpida e vergonhosa, de que este não saiba eleger seus próprios sonhos.
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