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em 10 de junho de 2006
Resumo: Os homens enfurecidos que saem às ruas para roubar, seqüestrar e matar não o fazem por fome nem por falta de oportunidades e sim, por uma inconfessável e profunda inveja.
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Esse artigo foi escrito em solidariedade a mais um brasileiro morto pelas mãos das Forças Armadas Criminosas que atuam livremente em nosso país. Rodrigo Netto, guitarrista da banda Detonautas foi morto em tentativa de assalto, na zona norte do Rio de janeiro, no domingo, dia 4 de junho, quando voltava para casa da festa de 90 anos de sua tia-avó. Estavam no carro, junto com ele, o irmão Rafael Netto, que também foi baleado e está hospitalizado, e a aniversariante, que não foi atingida pelos disparos dos assaltantes. Às vésperas da Copa do Mundo, os brasileiros estarão a torcer por um Brasil que não existe – um nome vazio, sem Estado de Direito; um pedaço de terra governado de fora para dentro para os que dele se apossaram.
Estamos nós brasileiros a ser vítimas de um genocídio escandalosamente público contra o qual não temos a menor condição de reagir, porque o mundo inteiro insiste, criminosa e maquiavelicamente, em dizer que a criminalidade que tomou as ruas e todas as esferas sociais do país é fruto das desigualdades sócio-econômicas.
Mentira deslavada! Ela é resultado de anos e anos de uma propaganda sórdida que disseminou culpa e vergonha do que são e do que têm entre as pessoas que trabalharam duro e honestamente por tudo aquilo que conquistaram, ou ainda entre os que pecaram por nascer em berços mais afortunados. Simultaneamente, colocou na cabeça dos que talvez tivessem que se esforçar mais ainda para conquistar as mesmas coisas, que os mais abastados tinham a obrigação "cívica, moral e cristã" de repartir o que quer que tenham conseguido – o que fez com que os primeiros acabassem pensando que isso tivesse que ser obrigatoriamente feito por bem ou por mal.
Culpa e inveja foram manipulados para que se travestissem de senso de justiça. Senso esse que, ainda que deturpado, repousa nos mesmos argumentos sobre os quais o fazem as conquistas sociais que realmente tenham contribuído para trazer mais justiça para o convívio social, na evolução da humanidade. Um bom exemplo disso, dentro desse processo evolutivo, foram as mudanças que ocorreram nas sociedades em que prevalecia o privilégio hereditário e não a competência para o desenvolvimento político, social e econômico dos indivíduos que nela viviam. Foi um progresso, sem dúvida. Mas, quando desapareceram os princípios hereditários, entretanto, surgiram as inevitáveis diferenças individuais (competência, habilidade, ambição, etc.) que acabaram por criar discrepâncias de status tão enormes quanto as que eram produzidas pela estratificação hereditária da sociedade. Não há como negar que tanto a hereditariedade quanto o igualitarismo já demonstraram proteger os incompetentes – a primeira por motivos óbvios e o segundo por acabar penalizando os mais competentes, exigindo que os indivíduos sejam tratados em grupos ou categorias.
"Cansei de dizer para ele se desfazer daquele carro de luxo porque despertava a cobiça das pessoas" - Taxista Gilberto Silva Neto, 65 anos, pai do músico morto.
O igualitarismo faz com que os indivíduos transfiram para o social o fardo insuportável de sua própria incompetência. Isso se dá no plano virtual. No plano real, o Estado "justiçador" se encarrega de inibir a ascensão da competência, muito especialmente da que está intimamente relacionada com a inteligência. Uma coisa é certa: um indivíduo "intelectualmente desprivilegiado" que faz sucesso e ascende social e economicamente provoca muito menos inveja e representa uma ameaça muito menor ao status quo estabelecido do que um cérebro privilegiado nas mesmas condições .
A ideologia que está por trás do fomento da luta de classes nada mais é do que a forma de manipular e de convencer milhões de pessoas a atribuírem ao Estado uma função reguladora e mediadora que na realidade não faz parte de sua imposição originária, que é a de garantir a segurança daqueles que têm que educar, cuidar, tratar e pesquisar (na retaguarda da sociedade), para que os que tenham que produzir riqueza e gerar desenvolvimento possam fazê-lo
"Organizei a festa e agora me sinto até um pouco culpado" - O padrinho de Rodrigo, José Antônio Neto, 56 anos.
A figura do Estado regulador, marxista por excelência, é a forma que os sedentos de poder (invejosos incompetentes) encontraram para obter dinheiro dos que trabalham para distribuir o mínimo necessário a fim de manter um exército de aspirantes a dias melhores sob constante controle. Fingem que distribuem riqueza, mas o fazem na medida de alimentar uma esperança de ascensão sócio-econômica que jamais virá, para uma multidão de pobres emburrecidos, não pela falta de educação mas, ao contrário, muitas vezes através dela própria, com um sistema de ensino que tira das massas as condições de refletir e de pesquisar, e que serve como instrumento de dominação por lavagem cerebral. É o maior estelionato da história da humanidade.
A manipulação da inveja e da culpa travestidas de justiça social engessou os pobres na posição de incompetentes e de incapazes, para extrair da já sabida frustração que essa condição produz, o ódio necessário que alimenta a também sabidamente falsa, necessidade permanente da luta de classes. Dividir para dominar, tirar dos homens a confiança em seus instintos e fazer com que uns tenham pavor dos outros (impedindo, pois, a sua aproximação) é o terreno fértil para plantar e deixar enraizar o Estado "justiçador" – para imensurável delírio dos que dele se apoderam para viver como reis, do trabalho de uns e da miséria de todos.
Taxação excessiva, confisco, desapropriação, nacionalização e outras tantas medidas do gênero são praticadas pelo Estado "justiçador", com intuito de empobrecer os mais ricos e não de enriquecer os pobres. Quando organizada e levada às últimas conseqüências, a inveja, sob o manto de "justiça social", com a bandeira do igualitarismo, conduz ao autoritarismo estatal para expropriar os invejados daquilo que têm para que os invejosos conquistem aquilo que nunca tiveram competência para produzir ou obter por meios legítimos.
"Esse aqui é mais um cidadão brasileiro, mais uma pessoa de bem que foi vítima dessa violência que está por ai, por causa desses que roubam o dinheiro da gente e ninguém faz nada"
Porém, o despotismo estatal não pode evitar que alguns indivíduos tenham desempenho superior ao de outros, porque, ao contrário do que insistem em tornar verdade, os homens não são iguais – POR NATUREZA. Reparem que, apesar de o Estado tentar suprimir toda e qualquer forma de distinção, as próprias pessoas, individualmente, elegem para si os melhores médicos, os professores mais competentes, os artistas que mais lhe agradam e assim por diante. A desigualdade de desempenho leva à desigualdade de compensação. Só há uma maneira de seqüestrar o livre desenvolvimento da competência individual do cidadão: instalando o terror, a insegurança. É por isso que o Estado autoritário "justiçador" em processo de implantação precisa do caos e do terror promovidos pelo crime organizado, desde os congressistas aos assaltantes de rua, passando pelos movimentos "populares" organizados (UNE, MST, etc.).
O líder do grupo musical Detonautas, Tico Santa Cruz, no enterro de Rodrigo, disse à TV Bandeirantes: "São os trabalhadores, a gente honesta deste país, que estão freqüentando os cemitérios para enterrar seus mortos, vítimas da violência e do descaso das autoridades"
Impedido de criar e de produzir tanto pelo excesso de burocracia e taxação como pela insegurança instalada, os indivíduos que poderiam usar sua competência, não só para evoluir pessoalmente, mas também para promover o desenvolvimento econômico-social, vêem-se impossibilitados de atuar e, conseqüentemente, forçados a permanecer estagnados na posição social em que se encontram. Eu poderia passar horas falando das conseqüências desse tipo de ciclo vicioso mas vou apenas lembrar de um episódio da vida nacional: quando o Presidente Fernando Collor de Mello promoveu o confisco monetário, logo no primeiro dia de seu mandato, muitos pobres comemoraram, não por melhorarem de vida, mas porque adoraram ver os ricos desesperados dizendo que estavam pobres. Aos poucos, quando começaram a ser sumariamente demitidos, em massa, descobriram que estavam a comemorar a própria desgraça.
Os homens enfurecidos que saem às ruas para roubar, seqüestrar e matar não o fazem por fome nem por falta de oportunidades e sim, por uma inconfessável (talvez até inconsciente) e profunda inveja. Nada do que venham a ter os fará parar de matar porque o que não suportam é a simples presença física daqueles que eles julgam superiores, não pelo que têm, mas pelo que são. E isso não é coisa que se possa tirar de ninguém a não ser quando se lhe tira a própria vida. Matar a felicidade – essa é a razão da violência que estamos a assistir nesse país.
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